Ahoy meus caros marujos!
A vida do mar nos leva a presenciar situações que causam vergonha e revolta. Esses dias eu estava trabalhando em um barco de passageiros, e uma senhorinha de idade avançada me pediu uma ajuda para comprar um bilhete de passagem.
Comovido pela sua história eu a ajudei com cerca de cinquenta por cento do valor total. Fui pessoalmente comprar o bilhete e acabei gravando a numeração.
Horas depois, durante o processo de embarque, lembrei-me da velhinha e a procurei pelo navio. Quando percebi que ela não havia embarcado eu procurei o comandante, avisando que ele não poderia zarpar, pois faltava um passageiro. Para a minha surpresa, já haviam sido feitas duas contagens de passageiros, e que haviam batido corretamente.
Nesse momento houve um alvoroço no convés, foi necessário que parte da tripulação (inclusive eu) interrompesse uma discussão entre duas mulheres. Uma havia sido pega roubando bens da cabine da outra. Quando pedimos o bilhete da acusada, eu me deparei com a passagem que havia ajudado a pagar.
Logo a mulher confessou seu plano. Ela usava uma senhora para arrecadar dinheiro da passagem e usava essa passagem para furtar as cabines de pessoas abastadas. Quando a dissemos que teríamos que chamar a marinha ela disse:
– Não, por favor, a marinha não! Eu sou cadete da marinha, mas estou vivendo uma crise por causa de problemas financeiros, então uso minha folga para aplicar esse golpe. Mas, se eu for presa, serei julgada em uma corte militar! Será o fim de minha carreira!
Nosso capitão, um homem do mar experiente, olhou pra moça e perguntou:
– E que diabo de oficial da lei é você? Cedendo aos desejos criminosos que você foi treinada para combater!
Confesso que essa pergunta me levou a refletir sobre a situação dessa mulher. Ela não era uma dessas pessoas que entram para o crime para sobreviver. Ela conhecia os conceitos de ilegalidade, crime, e consequência envolvidos nessa ação. Mesmo assim, no momento de crise, ela resolveu usar das “ferramentas do crime” que tanto havia estudado.
Não é da mesma forma em nossas vidas espirituais? Éramos criminosos, distantes da justiça de Deus, entregues à avidez e cometendo todo tipo de impureza (Efésios 4. 18 e 19). Até o momento que nos encontramos com Jesus. Ele nos doutrinou, nos ensinou um caminho de verdade e justiça, nos tornando membros e agentes dessa justiça (Efésios 4. 21 a 24).
Mas, que assuma seu posto de Semideus aquele que nunca usou da “ferramenta do pecado” que conhece tão bem. Contudo, pecar nem é o problema dessa reflexão, persistir no crime fardado de crente é o X da questão de hoje. Endurecer o coração para o pecado, simplesmente por que ele traz prazer ou vantagem, não o torna menos pecado. Isso é dar lugar ao Diabo para te aliciar para o crime, como um policial corrupto. E a bíblia é bem clara nesse sentido:
“Não deis lugar ao diabo” (Efésios 4. 27).
De que adianta ser cristão e não poder ver uma oportunidade de sair lucrando?
De que adianta ser cristão e não poder ver um decote em V sem sair criando pensamentos lascivos?
De que adianta pregar amor ao próximo e destratar os familiares?
Sou obrigado a perguntar: Que diabo de crente é você? Que diabo de crentes somos nós?
Ficou chocado? Também fiquei quando me fiz essa pergunta. Quem diria que a fronteira entre a imagem de Cristo e agentes do pecado seria tão facilmente transponível?
Não sejamos insensatos, tudo que se faz em segredo se revela com a luz da justiça de Deus (Efésios 5. 13). Mesmos nas privações e provações mais extremas, devemos ser sábios e prudentes. Resistindo ao impulso de ceder às táticas do pecado com a fé na providência de Deus na vida daqueles que Ele ama. Assim, não provaremos do vinho amargo da indisciplina!
“Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus. Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” (Efésios 5. 14 a 21).
(Textos bíblicos citados: Efésios capítulos 4 e 5).