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À Deriva #22 – Independência

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante…”

Esse brado às margens do rio Ipiranga é celebrado como a declaração de independência de uma jovem nação. Finalmente o país estaria livre da política mesquinha do colonizador europeu.

O desejo por liberdade era tão grande, que seria levado até as últimas consequências. A morte se mostrava um destino melhor do que continuar dependente da metrópole.

Você pode não ter prestado atenção, mas centenas de gritos de independência continuam ecoando a cada dia:

– Não vejo a hora de sair da casa dos meus pais, eles são retrógados e ditadores!

– Não suporto mais esse trabalho, gostaria de estar descansando agora. Longe de tudo isso!

– Está na hora de terminar essa relação. Você me sufoca e espera muito de mim. Só gostaria de poder curtir o momento, mas você estragou tudo!

Uma nação desejosa por progresso, um jovem que anseia por viver longe das regras dos pais, um profissional estressado com o cotidiano de seu trabalho, um amante desejando curtir a vida sem os laços do compromisso, todos bradando por liberdade.

No entanto, emancipar-se de forma prematura ou irresponsável pode trazer sérias consequências. Isso me trouxe até aqui.

– Oinc? (porquinho)

É claro que você não entende nada do que estou te falando. Quem diria que alguém conhecido por organizar grandes festas, noitadas inesquecíveis, estaria agora contando suas mazelas para meia dúzia de porcos.

Tudo o que eu queria era ser livre! Livre da casa de um pai cheio de regras. Livre de um cotidiano entediante. Aquela realidade me oprimia, sufocava, parecia que estava me matando aos poucos

Eu só queria viver senhor Porco, conhecer o mundo além das cercas de nossa propriedade. Então, sem um pingo de juízo ou preparo, enchi meus bolsos de dinheiro e virei as costas para meu lar.

Nunca me senti tão vivo! Pena que essa vida durou pouco. Primeiro foi o dinheiro, depois os amigos e as mulheres que ele comprou. E agora, o que eu vou fazer com essa tal liberdade, se minha única companhia são animais sujos? Sem ofensas senhor porco.

Lembro que os funcionários de meu pai, até mesmo os mais humildes, tem uma vida muito mais digna que a minha. Eu nem posso dizer que daria tudo para voltar a ser dependente dele. Afinal, o que me sobrou?

Resta-me suplicar! Implorar por sua misericórdia e compaixão. Pedir que ele perdoe minha presunção e arrogância. Assumir que desprezei suas sábias orientações e vivi minha liberdade de uma forma desprezível. Vou admitir que não mereço ser chamado de filho, mas quem sabe ele me aceite como funcionário?

Adeus senhor porco, hoje eu entendo que meu grito arrogante de independência me trouxe até seu chiqueiro. Vou voltar à casa de meu pai, e voltar a depender de sua bondade e graça. Hoje eu escolho voltar a depender dele para ter vida!
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Texto IndependênciaAlexfábio Custódio
Edição e masterização: Chico Gabriel
Arte da vitrine: Chico Gabriel

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Duração: 00h06min40s
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