“… de vinho tinto de sangue”.
Ditadura gay, ditadura evangélica, representa, não representa, cale-se ; estilo livre, liberdade, respeito, desrespeito, totens, cale-se. Momento estranho esse que vivemos em que tudo é motivo pra mandar o outro se calar, principalmente no meio cristão. Se alguém discorda da minha opinião, ou eu discordo da dele, tenho mesmo que fazer com que ele se cale por considerar que ele está errado?
Eu havia prometido a mim mesmo que não manifestaria nenhuma opinião sobre essa guerra idiota que instaurou-se entre crentes e gays, então vou tentar falar mais do que está por trás (divino!) dessa bagunça toda. Mas fato é que não consigo entender um povo que se diz parte de um grupo religioso, que nasceu em meio a um “protesto”, querer silenciar o protesto de outros, ou até mesmo a simples opinião. Antes que encham o meu saco (#PPP ?) falando que o tal “outro lado” também age com intolerância, pergunto o seguinte: não deveriam ser os que pregam o amor a dar a outra face, e a propor um diálogo saudável, inclusive enquanto apanha? E o que me dizem sobre a intolerância que tem como alvo pessoas que, supostamente, fazem parte da mesma fé, mas veem as coisas de outra forma?
Me preocupa muito, e chega a me dar medo, essa pessoas que se dizem grandes defensoras da fé e valores cristãos, mas que não conseguem exercer o mais fundamental ensinamento de Cristo (o amor) com uma pessoa que eles afirmam precisar dEle. Não quero dizer que devemos ser passivos frente a atitudes que afrontem nossos valores, mas pergunto: qual a necessidade de nos portamos como idiotas bradando pedras e tacapes teológicos contra qualquer opinião contrária, como se precisássemos defender a todo custo a honra de um “deus” franzino? Que valor tem em querermos simplesmente calar toda voz que se opõe à nossa, ao invés de ouvi-la e dialogar?
É como na vinda da Yoani Sánchez ao Brasil, em que os supostos defensores da democracia e liberdade impuseram à cubana a ditadura do silêncio, agindo como crianças mimadas que tampam os ouvidos e balançam a cabeça cantarolando para não ouvir o que lhe desagrada. E é assim que tem feito muitos evangélicos defensores da “moral” e dos bons “costumes”, grandes apologetas do mundo moderno que na verdade só querem impor a todos a ditadura de sua própria opinião: mais certa que a dos outros, e a única inspirada por (um) deus. Querem lutar contra uma suposta ditadura, mas impondo a sua própria. E isso não me faz nenhum sentido.
No fim das contas, a maior de todas as ditaduras é a que nós mesmos impomos aos outros ao tapar nossos ouvidos e tentar fazer o mesmo com suas bocas. Precisamos entender que pregar o evangelho não é impor os seus valores àqueles que consideramos precisar, mas vive-lo de forma que os outros enxerguem que precisam dele. Ter a certeza de que conhecemos a Verdade não é sair por aí gritando que todos os outros estão de olhos vendados e ouvidos tapados pela mentira. Temo viver em um mundo em que o ditador do meu próximo sou eu.
Mandamos irmãos ao inferno acusando-os de hereges, torpes e pecadores. Mas há algo mais torpe que desejar o inferno a alguém? Para condenar os que nos afrontam acabamos por inventar nosso próprio pecado, mas arriscamos morrer do nosso próprio veneno (Cale-se?).