A igreja evangélica brasileira nos últimos anos tem sido inundada por músicas e pregações a respeito de “sonhos”. Dentre todas as terríveis “exejegues” sobre o assunto, me deparei esses dias com a música “O sonho de José”. Confesso que me doeram os ouvidos ao ouvir declarações do tipo “Deus vai fazer o que você sonhar”! Me pergunto: de onde as pessoas tiram interpretações tão erradas das Escrituras?
Para que possamos analisar melhor essa questão, vejamos os seguintes pontos:
– Deus não sonha! Isso mesmo. Deus é um ser Eterno, de uma natureza distinta da nossa e, portanto, não tem momentos de “sono” para que produza sonhos. Parece algo lógico, mas partindo desse princípio frases como “Os sonhos de Deus” perdem totalmente o sentido. Deus não sonha, Ele determina e executa!
– Deus não tem a obrigação de realizar nossos sonhos. Ele não é um gênio da lâmpada que nos concede desejos ilimitados. Não existe nenhuma garantia bíblica para que Deus te livre de alguma situação, ou realize o grande sonho da sua vida.
– Os sonhos, numa perspectiva puramente bíblica, tem uma outra conotação. Eles são ligados a profecias referentes ao destino do povo de Israel e, posteriormente, o da Igreja. Tudo isso dentro da visão de Deus a respeito do Seu Reino. Deus zela a respeito de Sua própria Palavra, e tudo que está contida nela vai se cumprir, sem sombra de dúvidas.
– A Bíblia não trata de nosso destino individualmente, isto é, não existem relatos bíblicos a respeito de aspectos puramente pessoais de nossa vida. Ela tem um valor muito mais amplo, e sendo nós protestantes a temos como única regra de fé e prática. Qualquer revelação extra-bíblica não tem garantia divina nenhuma.
E a maior heresia dessas músicas é onde Deus tem que se encaixar e se moldar à nossa vontade, quando, durante toda a revelação bíblica, o oposto é que é verdadeiro: nós nos moldando de acordo com a vontade de Deus.
Não existe tal coisa como “centro da vontade de Deus”, porque não existe estar “na beirada da vontade de Deus”, ou você está ou não está! Como dizemos na área da informática, é 0 e 1, ligado e desligado. Simples assim.
É claro que esse tipo de música trás conforto, afaga o ego, esconde o pecado, tira o significado e possível proveito dos momentos de sofrimento. É um alucinógeno, uma droga que nos anestesia para a realidade de que Deus é Soberano, Eterno, Criador dos céus e da terra, o único que realmente sabe o que é ou não melhor para mim. Se é momento de sofrimento, ou como dizem, de estar no deserto, meu único foco não pode ser um vislumbre de que vai passar e tudo vai melhorar, mas de que Deus está comigo, até mesmo quando eu andar pelo vale da sombra e da morte.
Em algum momento de nossa história perdemos a capacidade de sermos gratos simplesmente por termos sido salvos da condenação do pecado, hoje é algo etéreo e insuficiente como motivação para seguir a Deus. Precisamos cada vez de mais referências materias e cada vez menos das promessas eternas.
Se não mudarmos essa realidade das mensagens e expectativas de nossas comunidades, estaremos fadados a uma religião meramente focada em coisas terrenas e cada vez mais distantes das preciosidades do conhecimento de Cristo.