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Histórias de Convés - Profeta Cabeça de Repolho

Profeta cabeça de repolho

Ahoy meus caros marujos!

Eu e meus amigos gostamos muito de xadrez, tanto que nos reunimos todas as segundas-feiras para jogar, chamamos nosso grupo de PES (Praticantes de Enxadrismo Semanal). Eu até convidei o capitão Matheus, mas ele disse que as segundas são os dias de suas reuniões no FIFA (Federação Internacional de Floriculturismo Avançado), fazer o quê, cada um com seu passatempo preferido.

Em uma dessas viagens da vida, eu embarquei com uma jovem tripulação, e os garotos se divertiam durante a noite jogando xadrez. Pelo menos tentavam…

Um dos marinheiros se destacava entre os outros, ganhando facilmente as partidas. O sujeito era um fanfarrão, zombava de cada amigo derrotado de forma abusiva. Eu observava o número de interessados no jogo diminuírem a cada noite, até o momento em que o fanfarrão ficou sem adversários.

Ao perceber que nenhum dos colegas desejava ser humilhado, ele olhou para o cantinho do convés onde eu estava sentado e disse:

– Glasseye, você gostaria de jogar? Eu te ensino.

– Sério? Por que não?

Após um tutorial mequetrefe de como jogar, começamos a primeira partida. Em pouco mais de duas horas já o havia derrotado quatro vezes. E todos os humilhados das noites anteriores foram nos ver jogar.

Após a quarta derrota ele disse:

– Você joga bem, eu sou o melhor dessa tripulação.

– Uau, muito bom! Eu, no entanto, não tenho muito do que me orgulhar, sou o mais fraco do meu grupo de enxadrismo.

Naquela noite, alguém que desejava “ensinar” recebeu uma grande lição. Infelizmente, o mundo está repleto de pessoas que possuem conhecimentos e talentos fabulosos, mas que se perdem no caminho do orgulho e da soberba. Outro exemplo parecido é o que chamo de “cabeça de repolho”. A pessoa vai adquirindo experiência/conhecimento, mas esse crescimento é similar ao do repolho, que se fecha mais a cada nova folha. Bom é ser como a alface, em que cada nova folha força a abertura da hortaliça.

Marujos, vocês permitiriam que uma pessoa cega caísse em um precipício simplesmente por não conseguir ver as placas de perigo? As escrituras nos mostram que Jonas, um profeta cabeça de repolho, deixaria sim.

Quando Deus lhe ordenou que fosse a Nínive anunciar uma palavra dura de juízo e condenação, Jonas usou todo o seu conhecimento da misericórdia do Senhor para simplesmente resolver desobedecer.

“Anunciar juízo a Nínive? Para ver eles se humilharem e o Senhor se apiedar deles? De jeito nenhum! Eles são pecadores devassos, cruéis, merecem nosso desprezo e perecer pelos seus erros!”

Jonas embarcou em um navio para fugir de seus compromissos proféticos. Enquanto o povo assírio caminhava em trevas, o profeta guardava a lanterna da palavra de Deus em sua bagagem. Deus precisava abrir a cabeça de repolho de Jonas.

Como vocês sabem, Jonas aprendeu que não tem como se esconder de Deus. Seja no porão de um navio, no meio de uma tripulação apavorada, ou nas águas de um mar agitado. Deus sabia onde Jonas estava, e como colocar ele de volta na linha.

Depois de uma viagem submarina, que deve ter inspirado Júlio Verne, Jonas pregou aos ninivitas. Desanimado com os resultados positivos de sua mensagem (!!!) Jonas resolveu esperar para ver no que ia dar tudo aquilo. Esse foi o momento usado por Deus para ensinar na prática o verdadeiro sentido de graça e misericórdia.

Então, amigos navegantes, eu pergunto: Quem mais aprendeu durante todo esse processo? Os do barco? Os ninivitas? Eu acredito que as melhores oportunidades de crescimento foram dadas ao profeta cabeça de repolho.

Da mesma forma eu pergunto: Quem aprende mais com a história de Jonas? Para quem fica o exemplo e a lição?

Claro que para a igreja. Aprendemos que devemos observar as pessoas com as lentes da misericórdia divina. O Senhor nos capacita para sermos luz para esse mundo em trevas (Mateus 5.14), e nos aconselha a não sermos cabeça de repolho, escondendo a luz que nos foi confiada (Mateus 5. 15).

Minha oração sincera é que, nesses dias de igreja cada vez mais preconceituosa, nós possamos voltar a sermos faróis da vontade soberana de Deus. O processo de salvação não é um jogo, em que zombamos daqueles que perdem. Igrejas cabeças de repolho, fechadas em si mesmas, são coniventes com a degradação da sociedade em que estão inseridas.

Essa lição é para cada um de nós. Não esconda a lâmpada do evangelho, até por que, chama abafada tende a apagar.