“O que importa é estarmos disponíveis quando ele precisa de nós. É pra isso que a gente existe, não é?” Com essas palavras, Woody, o cowboy de brinquedo, tenta acalmar seus companheiros de plástico. Estavam todos nervosos. Andy, o dono de todos eles, fazia aniversário e ninguém sabia que presentes ele ganharia. “E se ele ganhar outro dinossauro? Um dos maus! Eu não sei se suportaria tamanha rejeição” disse Rex, o Tiranossauro bonzinho.
Em Toy Story (1995) os brinquedos são vivos. Eles se movimentam sozinhos, falam, têm personalidade, medos, afinidades. Mas quando Andy chega ao quarto, todos param. Ficam inanimados à espera de que seu senhor lhes use com sua criatividade para seu próprio contentamento. Andy ama seus brinquedos e estes sabem que o propósito de sua existência é alegrá-lo.
Woody sabe disso. É o brinquedo preferido de Andy. Diante de seus amigos, num púlpito improvisado e com microfone na mão os conclama a confiar em seu possuidor: “ninguém será substituído. É do Andy que estamos falando”. Mas a fé do cowboy de pano na fidelidade de seu proprietário passa por uma prova inesperada: Andy ganha de aniversário um Buzz Lightyear, o brinquedo da moda. Um astronauta cheio de dispositivos luminosos, botões que emitem sons e asas retráteis que deixam o antigo Woody no chinelo.
A confiança de Woody em Andy começa a ser abalada e outro sentimento lhe toma o coração: a inveja. De repente, o propósito de vida do cowboy, centrado na alegria de seu dono, é substituído por intenções pessoais. Ele é que deveria ser o alvo da admiração, ele deveria ser o companheiro preferido de todos os brinquedos e não aquele astronautazinho que nem sabe direito quem é, nem pra que existe, nem mesmo quem é Andy.
Quando Woody se afasta de seu propósito original e passa a se preocupar mais com sua própria imagem, coisas ruins acontecem. Ele atenta contra o novato, é condenado pela opinião de seus colegas brinquedos, se afasta do quarto do Andy e de seu amado dono. Ao abandonar sua vocação, Woody se isola de seu senhor e de seus irmãos brinquedos. Tudo porque se preocupou mais com seus próprios interesses do que com o que realmente importava “estar disponível para quando ele precisa”.
Somos como brinquedos de pano criados para o contentamento de nosso Senhor. Temos características diferentes, e somos usados de maneiras diferentes. Temos também personalidade, fraquezas, defeitos de caráter. Quando deixamos de focar no que de fato importa, em estarmos disponíveis para o contentamento de Deus, acabamos perdidos e isolados. Esses são os frutos de nosso egoísmo. A única forma de continuarmos juntos é nos concentrando no propósito, em Deus e em sua vontade. É largando o controle de nós mesmos e deixando que Ele nos pegue em suas mãos e crie, através de nós, o cenário e a narrativa que lhe agrada.
Shhh. Ele vem aí. Deixemo-nos ser movidos por Ele. Se fizermos silêncio talvez possamos ouvi-lo cantar: “Amigo estou aqui”.