“Uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada.”
Durante uma hipotética reunião de grupo de jovens, em uma hipotética igreja, uma discussão morna se arrastava sobre as estratégias a serem adotadas para trazer mais jovens para as reuniões daquela igreja.
Entre as várias vozes, as mais exaltadas repetiam constantemente a necessidade de se criar festas, eventos, de tornar os cultos mais atrativos para os jovens. Alguns falavam de aprofundar relacionamentos de amizade como forma de tornar aqueles jovens mais próximos, e outros voltavam a falar das atrações, eventos e palhaços. Mas em um momento um jovem, que até então permanecia ouvindo, resolve falar. Entre tudo que aquele rapaz falou duas coisas ficaram gravadas no ouvido do visitante que apenas observava tudo: “pregações mais inteligentes” e “os jovens de hoje estão em busca é de conhecimento”.
Para alguns, pode ter parecido arrogância daquele rapaz propor ao pastor que liderava a reunião que a igreja precisa ouvir pregações mais inteligentes, outros podem tê-lo tomado como um louco por achar que jovens não querem apenas entretenimento. Mas o grande problema é que uma grande parte dos presentes simplesmente não entendeu o que aquele sujeito estava propondo.
Em meio a uma subcultura evangélica impregnada de superstições e de uma ideia mágica sobre a espiritualidade, que despreza o conhecimento e entroniza experiências sobrenaturais, transformamos há muito tempo a igreja evangélica em um local em que as pessoas se reúnem como uma mera convenção social, e em que líderes e pastores usam a Bíblia como um livro de recortes para apoiar discursos e ideias. O ler, o estudar e a meditação perderam lugar para as manifestações cada vez mais espalhafatosas de uma espiritualidade baseada no vazio. E aqueles que destoam disso, são apenas revoltados e rebeldes.
Mas, que me desculpem os que se acham crentes demais e que sentem mais do que pensam, mas prefiro fazer coro com Martinho Lutero, que certa vez afirmou:
“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer, tanto para esta vida quanto para o que há de vir.”
Não que eu esteja afirmando que Deus é limitado em sua forma de agir, mas é que não consigo levar a sério ninguém que fale em nome de Deus sem citar de maneira coerente a Palavra que Ele deixou pra nós. No afã de encher templos e agradar pessoas, deixamos de defender o que deveríamos ter como verdade, e nos atemos apenas ao que vai agradar nossos interlocutores. E pra piorar isso tudo, essa postura cria pseudo-cristãos que não sabem em que sua pseudo-fé se baseia, tendo que viver sob um monte de regras que não entende para simular um comportamento cristão.
E não falo isso com pessimismo, nesse mesma reunião o consenso a que todos chegaram foi o de que pra atingirmos a vida dos outros, primeiro precisaríamos mudar nossa postura diante das coisas, nossa postura diante do evangelho. E por mais que alguns achem que a mudança necessária fosse gritar mais alto ou dançar de forma mais extravagante, ficou o sentimento de que algo estava errado, e precisava de mudanças. Não uma mudança na estrutura ou instituição, mas uma mudança de postura.
E aquele jovem revoltado disse ainda mais uma coisa pra completar suas ideias sobre a necessidade do conhecimento. Ele afirmou a todos que muitas igrejas tentam prender os jovens com regras e costumes, enquanto deveriam estar os educando e ensinando. E é assim que devemos viver o evangelho: baseados naquilo que conhecemos do nosso Deus, e buscando a cada dia conhecer mais dEle. Certamente é mais difícil viver estudando, buscando e aumentando seu conhecimento, mas também é muito mais compensador.
E que sejamos nós a mostrar pra igreja que, a curto prazo, pode até mais fácil controlar do que ensinar, mas essa postura não forma cristão nenhum. Porque aquele jovem teve a coragem de fazer isso, e por mais que possamos pensar que uma postura como a dele não muda nada, vi o brilho nos olhos do jovem pastor que o ouvia, e anotava cada uma de suas palavras.
Esse papo acabou me lembrando de uma música:
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Ah, e antes que eu me esqueça, a frase que citei no início do texto foi retirada do primeiro livro das Crônicas de Gelo e Fogo. Tido como inferior por seu porte físico diminuto, e por não ter força para lutar e se impor como a maioria dos homens, o personagem conhecido como Duende explicava o porquê de se dedicar tanto a adquirir conhecimento.
E hoje, infelizmente, a espada usada por muitos para se impor e oprimir os outros costuma ter uma placa na porta com frases e símbolos que lembram o cristianismo.