Ahoy meus caros marujos!
Sabe marujos, bem dizia a minha querida avozinha: “Meu filho, ouvido não tem tramela” (Espécie de tranca para portas, moldada em madeira, com um furo no centro, é pregada no batente das portas, de tal forma que pode ser girada, mantendo a porta travada quando necessário. O nome correto oficial para esta tranca de acordo com dicionários é a T A R A M E L A).
“Vocês dever ser iguais a esse filtro de barro”, continuava a doce anciã em seus conselhos, “pode até entrar algo ruim, mas você só aproveita o que é bom!”
Há algum tempo eu encontrei com um amigo que estava começando a trabalhar em um grande armazém. Ele confessou que estava tendo dificuldades ao lidar com transações financeiras. Matemática era seu fraco, e por mais de uma vez ele havia se enrolado com o troco de alguns fregueses.
Meses depois voltei a encontra-lo. Ele ainda estava no armazém e parecia feliz com o seu trabalho. No entanto, quando perguntei como ele havia superado a sua dificuldade com os números, ele disse que passou a usar o “método da compensação”.
Exatamente como vocês eu também perguntei o que diabos era isso. A resposta me deixou boquiaberto:
“Um companheiro me ensinou essa fórmula do sucesso. Cada vez que eu percebo que errei em um troco, passo a cobrar um pouco mais nas vendas seguintes, usando a diferença para cobrir o rombo”.
Minha avó sempre dizia que é melhor ouvir uma besteira dessas do que ser surdo. Eu tentei argumentar falando que isso era errado, mas ele me ouviu? Claro que não! Segundo ele seria roubo se ele pegasse para si o produto dessa transação, era tudo “para o bem da empresa”.
É como dizia a minha avó: “O pior surdo é aquele que não quer ouvir” (aliás, como a velhinha gostava de ditados auriculares).
O cidadão estava realmente convencido que não havia nenhum mal em cometer um crime para cobrir a sua deficiência como funcionário. E, como vocês podem imaginar, isso não durou muito tempo. Bastou um cliente perceber o golpe para os dois corruptos perderem seus empregos.
Ensinamentos mal filtrados em nossos ouvidos podem trazer consequências terríveis. “Prova carinha, um pouco só dá um barato”, é o suficiente para se entrar no mundo das drogas. “Está tudo planejado, não tem como sermos pegos”, é um empurrão para o mundo do crime. “Pecado? Relaxa mano, Deus é maior do que as algemas que essa igreja hipócrita coloca em você”, é a porta aberta para a decadência espiritual de muitas pessoas.
Sim queridos, infelizmente vivemos uma onda crescente de “igrejas à moda da casa”. Locais em que as ovelhas são dopadas, ao invés de curadas. São templos, programas de rádio e TV, sites, cheios de mensagens que acariciam o ego de seus ouvintes. Que pregam um falso evangelho, que não ensina a necessidade do arrependimento dos pecados.
O apóstolo Paulo alertou seu discípulo Timóteo acerca desses falsos obreiros massagistas de egos:
“Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (2 Timóteo 4. 1 a 3 / Grifo nosso).
Comichão nos ouvidos, pessoas que andam de um lado para outro procurando aquilo que eles gostam de ouvir. Paulo disse que essas pessoas se afastam de uma doutrina sadia. E a doutrina da salvação realmente torna-se pesada e desafiadora se comparada aos nossos desejos. Assim como no exemplo do vendedor fraudulento, muitos preferem encobrir seus erros apoiados em outros desvios de caráter, do que realmente trabalhar para vencer sua deficiência. E toda mensagem que for de encontro à sua zona de conforto é considerada “puritana” ou “santarrona”.
Sabe marujos, aceitar e reconhecer nossos erros é o primeiro passo para abrir mão da herança do pecado, e assumirmos nosso lugar em Cristo Jesus, Salvador e Redentor de todo aquele que nEle crê. Talvez algum de vocês esteja varrendo para debaixo do tapete todo tipo de sujeira, sem perceber que um “calombo” volumoso está se formando.
Está na hora da faxina, e somente uma vida cristã sincera diante de Deus pode arrumar essa bagunça. Deixo mais um conselho auricular, não de minha avó, mas daquele que quer te ajudar a viver segundo uma doutrina cristã saudável:
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 2. 29).