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Histórias de Convés - Cumpra-se a Justiça

Cumpra-se a justiça

Ahoy meus caros marujos!

Hoje estou feliz, recebi uma carta de minha irmã caçula. Devido á diferença de idade, eu e meu irmão a chamamos de “filha” ou “bebê”. Por ajudarmos a cuidar dela quando pequena, fomos atuantes em seu processo educativo e de socialização. Eu me lembro do dia em que ela aprendeu a diferenciar “desculpa” de “perdão”:

Nós estávamos brincando, e ela acertou uma pancada involuntária em uma área muito sensível de minha anatomia, quando voltei a enxergar do olho esquerdo… perai, tão rindo do quê? O que vocês pensaram?

Ainda temerosa, ela se aproximou com aquela carinha de “gatinha de botas”, que só irmãs caçulas sabem fazer, e disse: “Dicupa”. Eu a abracei, falei que entendia que foi sem querer e que ela estava desculpada.

Em outra ocasião, eu a coloquei de castigo após alguma traquinagem. Quando fui falar com ela novamente, o “modo dicupa” já estava operante. Eu a coloquei no colo e disse:

“Bibi, você fez algo que não deveria ter feito, a culpa é sua. Por isso eu precisei te colocar de castigo, para você não fazer mais isso. O maninho te ama, por isso eu vou perdoar o seu erro. Você está arrependida?”

A resposta veio com um chorinho tão sincero que quebra nosso coração, mas era uma lição necessária para o desenvolvimento do caráter da minha galeguinha. Assim, ela aprenderia a evitar ao máximo efetuar atos que necessitassem o perdão de alguém.

Desculpas são para ocasiões involuntárias, em que não há a intenção de cometer algo danoso. O perdão é para delitos voluntários, predestinados ou que aconteceram guiados por sentimentos ou desejos aflorados.

Minha maninha aprendeu aquele dia que: Mesmo se houver completo arrependimento, e a parte ofendida perdoe de todo o coração, nem sempre nós escapamos das consequências de nossos atos.

Isso me faz lembrar da história de um condenado à morte. Ele seria executado com outros dois criminosos. Eles eram exemplos de como o estado age contra inimigos da ordem pública. E, para o sucesso desse ato, havia toda uma preparação antecipada.

Havia o julgamento, os flagelos, a medição da cruz na qual ele seria crucificado. Eu imagino que esse criminoso anônimo teve tempo suficiente para refletir sobre a sua vida, e as atitudes que lhe pendurariam naquele madeiro.

Quantas vezes ele deve ter se arrependido? Desejado voltar no tempo? E durante as sessões de flagelo, quantos pedidos de misericórdia? No entanto, ele não encontraria compaixão entre aqueles homens.

No dia da sua execução, uma surpresa! Barrabás, o “peixe grande” do espetáculo, havia sido substituído por um tal Jesus nazareno.

Mas, como o show não poderia parar, seguiram-se socos, ofensas, mãos e pés cravados na cruz, dor, muita dor. Por que a morte não chegava logo? Ele entendia que merecia passar por tudo aquilo e…

Uma frase do homem da cruz do meio chamou a sua atenção:

– Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!

Você pode imaginar o paradoxo dessa situação? Jesus não estava pedindo por misericórdia, e nem insultando os seus algozes, ele orava! A única pessoa sem motivos para estar sendo crucificada distribuía perdão na cruz.

Esse gesto encheu o coração daquele bandido de temor a Deus. Ele teve ímpeto para defender Jesus das falsas acusações do outro condenado, e humildade para clamar pela graça divina.

– Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso.

Mais do que perdão, ele encontrou justificação naquele momento! O castigo da justiça romana não foi cancelado, mas, por depositar sua fé em Cristo, sua ficha criminal esta limpa diante da Justiça de Deus!

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3. 23 a 26 / Grifo nosso).

Justificação, explicada de forma concisa, é o ato de alguém cumprir a condenação em lugar do condenado. Isso vai além de desculpas, e até mesmo de perdão. É um gesto que elimina qualquer condenação, e concede a paz com Deus.

“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5.1).

(Texto bíblico citado na história: (Lucas 23. 39 a 43).