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À Deriva #13 – Especial de Natal: Paz na Terra

Dia 22, 18:45 – Todos os dias a mesma coisa. Enquanto uma multidão sai da fábrica, pronta para o repouso após uma jornada de trabalho, eu sigo na contramão, para mais uma noite em minha guarita. Diante do portão sempre encontro aqueles moleques correndo atrás de uma bola. No entanto, não dou cinco minutos pra começar a gritaria das mães: “Fulano vem tomar banho pra jantar”. Menos mal, assim ficarei sozinho com o silêncio.

Dia 23, 18:45 – Melhor eu me apressar, já está chuviscando e deixei a porcaria do guarda-chuva em casa. As mulheres começam a fechar as janelas das casas, o vento balança as decorações dos seus lares. E, mesmo essa chuvinha fria, não afasta esses pivetes do portão. Os demais funcionários passam falando do feriado, para mim isso não existe. Tenho uma folga semanal, e meu folguista ficou todo alegre por não cair “nas festas”.

Dia 24, 18:45 – Hoje não tem trabalhadores saindo da fábrica. Devido ao feriado a rua está mais calma, e posso prestar mais atenção nas casas. Vejo fumaça de churrasqueiras, ouço risadas, e a cada passo sinto o aroma de uma refeição diferente. Estranho, as crianças não estão aqui no portão…

19:10 – Uma movimentação estranha diante do portão da fábrica, aqui da guarita vejo várias crianças se aproximando, todas vestidas de branco, algumas com instrumentos. Alguns adultos os ajudam a se ajeitarem e eles começam a tocar e cantar! Pessoas saem das casas e se amontoam diante da calçada da fábrica. Por trinta minutos eles cantavam sobre um menino nascido em Belém, um Salvador enviado, sobre paz na tera a homens de boa vontade.

19:50 – Finalmente a multidão se dispersou, um último garoto coloca um papel diante do portão e grita na minha direção:  “Feliz Natal seu Celestino!” Fiquei impressionado por ele lembrar do meu nome, devo ter conversado com o pai dele uma ou duas vezes. O papel é um cartão escrito apenas: “vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.

20:10 – As músicas das crianças não saem de minha cabeça. “Paz na terra a homens de boa vontade”. Há quanto tempo já não me permito ter paz comigo mesmo? Já não sei dizer quando decidi fazer da tristeza e do isolamento minhas rotinas. Será possível remover tanta mágoa de um coração cultivado em amargura? Acho que não tenho escolha, me sinto impulsionado a ir conhecer o menino Rei e Senhor.

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Texto “Paz na Terra”: Alexfábio Custódio
Gravação, edição e masterização do áudio: Chico Gabriel
Arte da vitrine: Daniel Sas (portfólio)

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Duração: 00h07min37s
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